Pára meu - você não vai resolver o problema do mundo (Um conto sobre cachorros)

yuri abyaza costa
Eles sabem das coisas


Essa frase acabo de falar para uma de minhas cachorrinhas, a Nina (em maiúsculo mesmo, é um nome próprio). Toda vez que chega alguém em casa, toda vez que o telefone toca, toda vez que ela ouve outro cachorro latir, toda vez que meu celular toca, toda vez que ela ouve qualquer coisa ela late. A Pitica (também em maiúsculo) é um pouco pior do que a Nina. A Pitica corre para a porta quando alguém chega, vai até o portão, late para a pessoa e quando a pessoa entra, ela pula, late, cheira, rosna etc. Parece que elas querem resolver as coisas. Por exemplo, enquanto escrevo sobre elas, a Nina me observa, como se ela soubesse que escrevo sobre elas. Quando sorrio, ela mexe as orelhas. Toda vez que abro os olhos depois que acordo, mesmo que a Pitica esteja dormindo "nos meus pés", ela se levanta e pula sobre meu peito, parece que elas estão diretamente conectadas a minha mente e percebem tudo o que faço, sinto, penso etc.
Talvez seja um sinal que passa despercebido por todos nós. Talvez esse sinal seja o recado de que todas as formas de vida na terra estejam diretamente conectadas e nós, humanos, não percebemos, porque temos preocupações tão fúteis que não tomamos conta disso. Recordo-me muito bem de umas coisas que ouvia sobre os cachorros e outros animais, ouvia de especialistas (talvez por isso eu não admiro nenhum especialista), que diziam que os outros animais não possuem raciocínio. Eu nunca acreditei nessa bobagem. Para mim, é óbvio que eles raciocinam, só que em outro âmbito e de outra forma. Não podemos exigir que um cachorro raciocine igual a um cavalo, nem que um cavalo raciocine igual a um passarinho, nem que um passarinho raciocine igual a um jacaré e nem que um jacaré raciocine igual ao ser humano. Isso é tão claro quanto o "céu" durante um dia de sol.
Vou contar um caso interessante: tinha um cachorro que morava comigo. O nome dele era Rex. Hoje mesmo recordei dele quando despertei. Era um dia ensolarado, estávamos na minha antiga casa de praia. Ele olhava para mim de um jeito diferente. Pediu para eu abrir o portão, abri e ele saiu. Como ele não retornou, saí à procura dele durante a madrugada. A Lua clareava a noite, era verão, a praia estava deserta e eu o chamava enquanto iluminava o ambiente com a lanterna. Um pouco adiante de onde eu estava, avistei uma sombra que repousava na areia da praia. Aproximei-me para ver o que era e para minha surpresa, achei o corpo do Rex. Fiquei muito triste ao vê-lo morto. Lembrei da forma que me olhou de manhã. Foi uma despedida, ele sabia que aquele dia seria o dia da sua passagem.
Ontem assistia a um programa na TV que falava sobre racionalidade. O tal especialista concluiu que só raciocina quem tem consciência de que existe, de que um dia vai morrer. Se o que o Rex demonstrou com o olhar não for prova suficiente de que ele sabia que ia "morrer" naquele dia, não sei qual prova poderia ser melhor. Acho que se isso não for prova de que todos os seres vivos da espécie animal possuem sentimentos tão reais quanto os nossos, é melhor repensarmos nosso modo de entender as coisas.

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