Explicando o poema Canção do Tamoio
Canção do Tamoio ou Canção dos Tamoios |
O poema de Gonçalves Dias, Canção do Tamoio ou Canção dos Tamoios não é só um poema, é um hino.
Encontram-se muitos textos sobre a Canção dos Tamoios, só que não se encontram explicações do texto.
O que exatamente significa o que Gonçalves Dias quis dizer com essa belíssima expressão de sentimentos?
Gravei um vídeo em que explico (dentro do meu entender) o que se quis dizer com esse poema. (o vídeo está no final da postagem).
A ideia parte do princípio de que o pai fala ao filho como é a vida e como se deve proceder e comportar-se no dia a dia.
Frisa que a vida é luta sangrenta (renhida) e constante, ou seja, é preciso trabalhar sempre e permanecer firme diante dos conflitos que surgem dia após dia.
A maior parte dos conflitos surge em nós mesmos, por não aceitarmos a contrariedade das nossas ideias e vontades, o que gerara um combate interno ou com outras pessoas, diante disso, que vença o mais forte.
Forte não apenas na força física, mas no caráter, inteligência, honra e crenças.
Manter essa postura exige sacrifício, paciência, tenacidade.
Firmar-se como um exemplo a ser seguido requer inteligência, visão ampla das coisas, conhecimento, autoridade (no sentido de assumir responsabilidades), que não tem nada a ver com autoritarismo.
É preciso saber o que fala, explicar claramente o motivo de as coisas serem do jeito que você fala e não do jeito que acham que tem que ser.
É uma luta constante com o próprio ego e lutar contra si, exige muitas vezes derramar o próprio sangue em lágrimas, mágoas do coração e lamentações por causa da ignorância alheia.
Gonçalves Dias fala sobre coragem, sobre viver a vida intensamente, com paixão severa.
Vive-se um dia, porque não se sabe o dia seguinte. Faça tudo o que tiver que fazer com coragem, determinação, garra, afinco.
Esses que agem assim são os fortes que não se deixam abater, são os exaltados por causa da ação e da atitude que tomam com sabedoria, sem medo de se machucar, sem medo de morrer.
Porque tanto faz morrer hoje ou amanhã, já que a morte há de vir, sem hora marcada e quando chegar, é porque sua hora de partir chegou.
Suas decisões são tomadas com precisão certeira de um alvo na mira do arco arqueado, teso, esticado, pronto para lançar a flecha e atingir a presa, seja ela qual for e só se for necessário.
O homem que Gonçalves Dias descreve, é a imagem perfeita do herói idolatrado, amado e querido por todos, porque sua altivez o faz assim.
Não que ele tenha nascido grande, é que a ele foi ensinado o caminho da grandeza.
Os outros que não tiveram essa sorte, invejam seus feitos grandiosos, sua inteligência e seu conhecimento são maiores, porque ele foi preparado desde a infância para ser quem se tornou.
Ele é tão grande que até os velhos anciões da tribo, percebem nesse homem sua distinção, por isso, quando esse homem fala até os velhos se calam e ouvem sua palavra, acatam seus conselhos.
O pai diz ao filho qual é a sua linhagem, diz de onde veio, fala de seus antepassados e que seria uma vergonha não ser o símbolo perpétuo daqueles que vieram antes dele e que o fizeram ser quem são.
Deixar de entalhar na história o brasão (escudo de armas) de sua linhagem, seria o sinônimo da covardia, o oposto de tudo o que lhe foi ensinado, o reflexo do fracasso por opção e não por deficiência.
Mais do que isso e agora muito importante, Gonçalves Dias fala sobre a reputação. O nome que precede a pessoa.
Ouvir o nome daquele guerreiro, saber que ele está a caminho, sentir o medo apenas por ouvirem seu nome sem sua presença é a maior das vitórias, porque é a maior riqueza de alguém.
Acelerar o coração de seus inimigos sentindo a adrenalina que faz bambear suas pernas e tremer suas mãos não têm preço.
Fazê-los sentir mais medo ao escutar o nome do guerreiro do que sentir medo das flechas que passam zunindo aos seus ouvidos é o verdadeiro significado de reputação.
O nome dele é usado inclusive para subjugar ou aliviar a tirania de governos autoritários. Seu nome é uma ameaça verdadeira e real, pois ele conduz multidões a lutar contra os desmandos dos fracos e ignorantes que por sorte ou descuido chegaram ao poder.
Gonçalves Dias alerta sobre a traição, pois ela existe em todos os lugares.
Alerta ao filho que se por ventura ele for traído e cair nas mãos do inimigo pronto a trucidá-lo, que apenas ele encare aquele momento sem medo, que rememore seus feitos, pois sua morte irá permanecer por toda a eternidade, ecoada pelo grito da garganta dos fracos e oprimidos, que contarão e cantarão a sua história, fazendo dele um exemplo a ser seguido, admirado, amado, respeitado e preservado.
É na hora da morte que ele prepara as suas armas, penetra e perpetua-se na vida, fazendo parte da história, porque foi feliz, herói, audaz e quem vier depois dele que faça melhor, que conquiste mais alto brasão, na guerra ou na paz.
I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
VII
E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.
X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
Somwmrs.os fortes são capaz de tamanha.proeza
ResponderExcluirEste poema é.para nós brasileiros.exemplo de honra e amor a terra e tudo q é nosso
Se necessário for.daremos.a.própria vida
O título do poema vem acompanhado da expressão natalicia. Qual a relação entre o título, essa expressão e o assunto tratado no poema?
ResponderExcluirMuito obrigada pela explicação. Excelente! Esclarecedora e libertadora. Pois aponta que não necessariamente se trata de força física. Isso se adapta bem aos dias atuais. Muito obrigada! :)
ResponderExcluirÉ sobre os indígenas que trata este poema. Não sobre os paulistas. É um poema indianista/nacionalista do romantismo brasileiro.
ResponderExcluirBem adequado aos fatos transcorridos no tempo atual no Nosso Brasil. Oremos pelo Nosso País. E pelos países que estão submetidos por governos constituídos por fracos e ignorantes.
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