Entre a vida e a morte está a sua vida

yuri abyaza costa

 

"Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverterium"

                                        Lembra-te homem, que do pó vieste e ao pó voltarás.   

Vivemos para quem?
Eu que já passei pela experiência de perder os pais e passei também pela experiência de ter uma filha, posso dizer. Foi no último dia 10 de julho de 2013 que nasceu a Ísis, minha primeira descendente.
Entre os dois pontos: a morte e a vida - está a nossa vida e, por isso, precisamos saber o que fazer com ela. Viver a vida é uma expressão que sempre motivou meu pensamento: o que é viver a vida? Para mim, viver a vida é, em primeiro lugar, ter a consciência de que um dia não haverá mais vida para viver, sendo assim, a intensidade é meu maior motivador. Lembro-me de quando eu era criança, de quando sonhava demais e aqueles eram ótimos momentos. Lembro-me também de ver meus pais envelhecer, de vê-los perder os dentes, a visão, a audição, a mobilidade física e a agilidade mental. Eles se transformaram em crianças velhas, pois, voltaram a sonhar, a achar graça em quase tudo e a se preocuparem o mínimo possível. Viver a vida seria sonhar? Talvez. Lembro-me de ver minha filha pela primeira vez nas mãos da enfermeira, lembro-me da expressão do rosto da mãe e da Ísis.
Viver a vida não é apenas sonhar, é tornar os sonhos realidade, pois a vida é experimentação. Nós habitamos o nosso cérebro e o cérebro sem o corpo não passa de um pedaço de "carne" morta. Nosso corpo é a ferramenta que o cérebro tem para poder, por meio do corpo, experimentar o que, através dos olhos, da boca, do nariz, das mãos e pés e da audição, capta ao seu redor. O corpo é uma ferramenta do cérebro, por isso, é importante cuidar do corpo, para que ele satisfaça as vontades do cérebro que, no fundo, não precisa de tantos cuidados, pois, quando muito exercitado, perde a capacidade de sonhar, logo, perde a capacidade de viver a vida.
Lembra-te homem, que do pó viestes e ao pó voltarás. Sinto essa frase tão forte que até hoje não a entendi perfeitamente. Se for assim mesmo, então o que fazemos não importa muito - o que vale é o que sentimos.
Shakespeare definiu bem: "o valor não está em quantas vezes você respirou, está em quantas vezes perdeu a respiração".
Antes de a minha filha nascer, eu era o substituto dos meus pais, agora que ela nasceu, tornou-se minha substituta, o que significa que meu caminho de volta ao Oort dos cometas sonhadores tomou impulso e sua calda se expande nesse universo temporário que é a nossa vida. Longa se tiver sentimentos, curta se tiver raciocínio.
Tiveram muitas coisas que eu quis fazer e não fiz, muitas palavras que quis falar e não falei - disso eu me arrependo. Ainda não é tarde, pois meu tempo não acabou.
Bem vinda ao mundo, filha. Siga seu caminho, pois cada um tem o seu.

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