A bonita história do cavalo guaraná

O ilustre procurado - foto: Marta Concistré


A 5 de julho de 1924, depois de um longo período de agitação política, é deflagrada uma Revolução em São Paulo.
Ao lado dos revoltosos, forma parte do então Regimento de Cavalaria da Força Publica, com seu Fiscal Administrativo, o Major Miguel Costa.
Miguel Costa torna-se chefe do movimento e depois de comandar uma coluna que percorreu o Brasil por cerca de três anos, dissolve a tropa e se interna na Argentina.
Em 1930 irrompe outra revolução, no Rio Grande do Sul, sob a chefia de Getúlio Vargas.
Miguel Costa se incorpora a ela, no posto de general, e assume o comando da principal coluna que ia marchar sobre São Paulo para atingir o Rio de Janeiro, Capital da República.
Nessa época, servia no Regimento de Cavalaria o 2º tenente Oscar Luiz Concistré, muito mais interessado nas lides hípicas do que na política.
Organizada uma tropa de Infantaria para obstar o avanço dos Revoltosos comandados por Miguel Costa, o tenente Concistré foi designado para comandar a Vanguarda e com ela marchar para o Setor Sul, Itararé, montado no seu cavalo GUARANÁ.
Estabelecido o contato e tendo a tropa sofrido revés, recebeu ordem de retirar fazendo deslocamento motorizado e, assim, teve de abandonar os animais, entre eles o GUARANÁ, que foram apreendidos pelo inimigo. (os revolucionários).
Terminada a Revolução Brasileira, ainda envolto nas agitações, o tenente Concistré não se conformava com a perda de sua montada, sua preocupação era reaver o cavalo.
Isso porque, tinha razões. GUARANÁ nunca fora montado por outra pessoa. Seu afeto por ele era especial, tratava-o igual a um ser humano e era reconhecido pelo animal.
Todavia, só uma pessoa poderia resolver seu problema, e era exatamente o inimigo de ontem e poderoso chefe vitorioso de agora, Miguel Costa, general da Força Publica, general do Exército, Secretário da Segurança Pública, Inspetor da Segurança Pública e Comandante Geral da Força Pública.
Mas tão alta personalidade - cercada de problemas gravíssimos e urgentes - ia atender um simples tenente, inimigo de ontem que estava preocupado com o destino do seu cavalo, enquanto o País preocupava-se em recuperar a ordem pública, o equilíbrio político e econômico?
Galgar os degraus intermediários e ser recebido pelo general era um sonho.
Assim, o tenente resolveu dar a cartada máxima sem permissão de seus superiores, dirigiu-se ao Quartel da Força Pública, certo de que iria ficar preso, mais também com a esperança de ser atendido pelo general, Oficial de Cavalaria, igual a ele.
Chegando ao Q.G., o tenente Concistré adentrou logo o Gabinete do Comando, ante o espanto dos Ajudantes de Ordens e demais auxiliares, sendo indagado pelo general o que desejava.
Começando a falar, o tenente percebeu que estava sendo ouvido com atenção e, no final, recebeu a resposta: Vou providenciar!
E o general providenciou.


O ilustre cavalo guaraná mostrando como se faz - foto: Marta Concistré

Para cada aquartelamento - do Estado de São Paulo - onde havia tropa montada, foi mandado um Oficial levando cópia da Resenha de GUARANÁ.
Não demorou muito e o capitão Aníbal de Carvalho, do Regimento, apareceu com o GUARANÁ num vagão de transporte próprio.
O animal estava bastante debilitado, mas seu relincho ao encontrar o tenente Concistré e ser acariciado por ele foi mais expressivo que tudo.
Passado algum tempo, na cidade de Santos, houve uma prova tipo “POTÊNCIA” e o GUARANÁ, montado pelo tenente Concistré, ganhou.
O general Miguel Costa estava presente, e o tenente Concistré foi levado a sua presença e nessa ocasião recebeu efusivos cumprimentos.
Eis aí um exemplo da grandeza do espírito cavalariano.
Com este relato, o cel. Ref. PM Oscar Luiz Concistré deseja prestar humilde homenagem a todos os cavalarianos com quem conviveu.
Transcrição do discurso do Cel. Ref. PM Oscar Luiz Consistré.

Comentários

  1. Esse coronel reformado é o mesmo tenente ou seria parente?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá Yuri,
    Sou neta do Oscar Luiz Concistré e fiquei muito feliz de ouvir a história do Guaraná registrada no blog e que sempre esteve na minha memória de menina, contato sempre na voz de minha avó, que infelizmente também já se foi. Obrigada, meus olhos se encheram de lágrimas.
    Marta Concistré. (email: zumartinha@gmail.com)

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