O ensino no Brasil e a formação de escravos melhorados

yuri abyaza costa
Um povo sem educação é um povo que não existe

Experimente raciocinar desta forma: a educação no Brasil é como a linha de montagem de uma empresa que utiliza a produção em série para fabricar seus produtos. Quero dizer que, em uma sala de aula, a mesma lição é transmitida do mesmo modo, todos os anos, a todos os alunos que passam pelos bancos escolares. Para mim, esse método de ensino não passa de uma fábrica de idiotas, que molda a mente dos alunos de um modo que todos cheguem a pensar da mesma forma: concluir os estudos, ter um bom emprego, possuir uma posição social de “respeito”, trabalhar para se aposentar e curtir a aposentadoria. Isso foi incutido na mente de todos nós. Vejo que isso tem um só propósito: o de fabricar zumbis sociais para viverem em uma inércia de pensamento, a fim de agirem sempre iguais, sem questionar suas atitudes e sem tomar alguma atitude diferente da que o condicionaram, ainda que isso signifique anular sua verdadeira vontade. 
Mesmo na faculdade é retirada do aluno a chance de somar o que já conhece com o que pode conhecer. Julga-se que a verdade só é verdade se for provada como verdade, o que não se julga é que se tem como verdade hoje, e que pode ser mentira amanhã. O que é isso se não uma forma de enjaular os pensamentos de vários indivíduos? No aluno é empurrada goela abaixo a cartilha que ele deve seguir e, para provar que ele a segue, o que tem que fazer é vomitá-la ipisis literis. Se assim o fizer, estará pronto para receber o certificado de qualidade e pronto para ser usado pelo mercado de trabalho, igual a uma peça que substitui outra já vencida. Quero dizer que aquele funcionário que já está velho e que não tem mais utilidade, é substituído por outro novinho, cheio de entusiasmo por ter "se formado" e se encontrar apto para fazer parte de uma sociedade que o absorverá, que o aceitará como integrante daquele meio, ou o fará crer nisso, ao fazer com que ele não se sinta só, mesmo que não faça por real vontade e sim por dinheiro ou comodismo. Será que está certo pensar que o homem é um ser social e sociável? Se não considerarmos o sentido de escravização do ser, sim, o que serve para que a máquina não pare, pois, cada homem é uma peça da máquina, do sistema. 
Minha pergunta é: somos escravos de quem?
Suponho que Henry Ford ficaria surpreso ao ver que a técnica de produção em série que ele desenvolveu e que foi condenada pelos anticapitalistas, adaptou-se até mesmo para a produção de robôs humanos, independente das convicções sociopolíticas. É provável que Charles Chaplin também ficasse surpreso com o alerta que o filme Tempos Modernos tentou mostrar. 
O Brasil não é uma democracia, é um país escravocrata. O que somos com nossas carteiras de trabalho se não escravos melhorados? A mão de obra é o que há de mais importante para que o sistema capitalista funcione, sem ela não há produção. Sem produção não há produto. Sem produto não há comércio e sem comércio há fome. 
Existe uma inversão de valores na sociedade brasileira. Cultua-se o intelectual que pouco produz enquanto se despreza o operário que produz tudo. Se o intelectual é capaz de produzir o pensamento, o operário é capaz de materializá-lo, sendo assim, ambos tem o mesmo valor, pois, os dois podem fazem coisas importantes, ainda que diferentes. 
O motor de um carro não funcionará se nele faltar uma das peças que o fazem funcionar, por isso, damos valor igual a todas as peças do motor de um carro. Se uma das peças falhar, ela será substituída por outra igual, para que o motor volte a funcionar. Não se costuma dizer que o virabrequim tem mais valor do que o pistão, já que o motor não funcionaria sem uma ou outra peça, mesmo com funções diferentes. Sendo assim, por que cultuamos o intelectual e desprezamos o operário se todos são peças, com funções diferentes, que fazem girar um mesmo motor? Mesmo que todas as peças do motor estejam perfeitas, ele não funcionará sem a ignição, o carro não se dirigirá sozinho sem o motorista, não sairá do lugar sem o combustível. Perceba que é um conjunto de valores que fazem o carro circular. Só que tudo está mudando. As peças dos motores de hoje não são as mesmas peças dos motores de ontem. Elas foram transformadas, atualizadas e são quase inteligentes, respondem, com velocidade cada vez maior, às necessidades do motorista e aos perigos do trânsito. Daqui alguns anos, as empregadas domésticas serão substituídas por mecanismos cibernéticos, que não precisam de salário, de apoio moral, de férias, de décimo terceiro, de família, de sono, de nada que um humano precisa, por isso, do mesmo modo que as peças de um motor estão se modificando, é necessário modificar imediatamente o modo de ensino que as escolas brasileiras utilizam para fabricar seus robôs. Se isso não for feito, o humano poderá se tornar obsoleto e ser substituído por um mecanismo cibernético que será capaz de reproduzir até in vitro a espécie humana.
Para concluir, lembro que o fim da escravidão no Brasil não se deu por bondade da princesa Isabel, se deu por uma necessidade econômica, que é a única necessidade que faz com que as mudanças ocorram. O aumento de alunos nas faculdades, não se deu por bondade de quem governa o Brasil, se deu por uma necessidade econômica, que exige números menores de analfabetos e mais graduandos e mestres, sem se preocupar se as pessoas recebem um conhecimento de qualidade ou se desenvolvem melhor suas habilidades e competências. Eis a razão de se transformar o sistema educacional do Brasil.

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