Cada um com a sua pegada

Caminhe pelo caminho da sua própria vida

Cada um com a sua pegada significa que cada um faz o que pode para sobreviver, ou faz o que pode para aparecer, para não morrer na sombra ou, como dizem, morrer na praia. Tentar é o que fazemos todos os dias. Tentamos alcançar a felicidade, o destaque social, ou coisas que nos projetem a isso. Eu mesmo tentei coisas na vida a fim de alcançar a felicidade e o destaque social, só que percebi a tempo que a felicidade não está no destaque social, está dentro da minha casa, dentro do meu coração, por isso, deixei de buscar o destaque social. O que eu quero nos dias de hoje é viver quietinho, sem preocupações, sem ter que me desdobrar para servir a outras pessoas que, depois de servidas, viram as costas e no minuto seguinte se esquecem de quem as ajudou. Quero viver para a alegria interior que, para mim, consiste em ter tempo livre, muito tempo livre, para poder deixá-lo passar. Consiste também em poder comprar as coisas que satisfaçam meus desejos de consumo. Como eu não gosto de multidões, não me preocupo mais em viajar e conhecer pessoas de outros lugares, se elas quiserem, que venham até a minha casa, que tragam seus pensamentos e suas coisas para compartilharem comigo, pois, do jeito que vivo, está ótimo. Tenho ao meu alcance tudo o que quero e o que não tenho, faço que venha até mim, por meio de um pouco de trabalho.
Meu sonho é viver a beira mar, debaixo de um sol escaldante, ao lado de uma caixa de cerveja, com uma vara de pesca na mão. É assim que quero passar o restante da minha vida. Não quero mais viver em função de buscar o que não posso tocar e nem ser. Quero sentir a natureza, sentir os elementos que fui criado. Esses elementos estão na natureza, afinal, o que somos se não produto da natureza?
Eu não quero ter que acordar cedo, sair da minha casa independente do tempo que estiver lá fora, ir para um trabalho qualquer, passar o dia longe da minha família, voltar em determinado horário, jantar exausto, dormir e repetir tudo isso ao longo de trinta anos. Eu quero acordar a hora que eu quiser, quando eu quiser, ficar em casa, beber, fumar, assistir televisão, ver minha filha crescer, brincar com meus cachorros, ouvir os passarinhos, conversar com meus amigos e, principalmente, não ter preocupações. Para viver assim precisei entender que tudo o que eu fizer, devo fazer com vontade, por isso, só faço o que tenho vontade. Precisei entender que, para viver assim, preciso de um pouco de dinheiro - não muito - apenas o suficiente para desfrutar dessa vida.
Quarenta anos se passaram e eu ainda não vivo assim. Tenho um trabalho que não gosto, estou rodeado de pessoas que não gosto, moro em um lugar que não gosto e nem por isso deixei de tentar. Tenho certeza que o último dia da minha vida será a beira mar, debaixo de um sol escaldante, ao lado de uma caixa de cerveja, com uma vara de pesca na mão.

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