Um dia tudo se torna igual


Chega um dia em que todas as coisas se tornam iguais. Os sabores, os amigos, os assuntos, os livros, os pensamentos, as mulheres, as viagens, as vontades, tudo passa a ser uma única coisa. Quando esse dia chega não há o que fazer a não ser esperar. É o reflexo de que se compreendeu a vida. Nela [vida] não existe nada de especial depois que se percebe que tudo não passa da mesma coisa todos os dias. Viver torna-se enfadonho. Dormir para sonhar e assim escapar por algumas horas da triste monotonia que é a vida ou se embriagar para também escapar da monocromática realidade em que os dias se tornaram acaba por ser a única saída para quem alcançou o estágio final da vida e ainda continua vivo. Tudo o que for fazer acaba por se tornar repetitivo, porque qualquer coisa que pareça ser nova, na verdade não é, de algum modo você já fez e nem percebeu. 
O esforço para adoecer o corpo e forçá-lo a se desligar parece a única novidade. Mas ele persiste em continuar vivo e a novidade torna-se repetitiva e, por isso, cansativa. Resta apenas esperar. 
A pior parte de tudo é perceber que todas as coisas que os homens fazem é apenas para obterem poder. É assim com todo mundo, pois o poder parece ser a única razão que nos faz acreditar que o amanhã será um dia diferente do que foi o exaustivo dia de hoje. O que é isso se não a tentativa de fugir da realidade que nos frusta quando acordamos? Não há sentido em lutar para sobreviver, pois é o mesmo que se esforçar para permanecer na prisão que o corpo representa. Cuidar do corpo é manter a jaula bem arrumada. O melhor é cuidar da imaginação, pois ela pode criar a realidade mais estapafúrdia possível, pode levar você para algo novo, até que um dia tudo se torna igual. 

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