Quando você encontra um lugar

yuri abyaza costa
Encontre o seu lugar e seja feliz

Todos estão em busca de um lugar onde possam viver tranquilos, longe do perigo, em plena felicidade - mesmo que dividida por momentos. Todos estão em busca de um refúgio que defenda e ampare tanto o corpo do indivíduo, quanto o indivíduo dentro do corpo. 
Alguns levam a vida inteira para encontrar, outros encontram rapidamente e outros nunca. Aqueles que encontram esse lugar passam a ver a vida de outra forma, pois param de buscar, já que encontraram seu porto seguro e a busca se tornou desnecessária.
A metáfora traduz a situação semelhante a um naufrágio. Os náufragos são os que se debatem na água para se manterem na superfície, a fim de não se afogarem e sucumbirem na profundeza escura e fria dos oceanos. Esses náufragos seriam os mesmos indivíduos que após romperem a placenta, passam a vida em busca de uma ilha para aportarem os corpos exaustos. "batem cabeça" por longos anos, trabalham feito escravos, pois acreditam que um dia atracarão em "terra firme". Manter-se na superfície sem nada para se apoiar exaure qualquer força. Eis que a exaustão abre a porta para o momento em que o indivíduo possa se entregar e deixar a correnteza social levá-lo para onde ela quiser. Mesmo vivo e a deriva, já foi tragado e envolvido de novo em outra placenta, impossível de romper, pois já está entregue a ela e absorto a própria existência. Sua vida e seus sonhos agora são inertes. 
Quem encontra um lugar, transforma-o em sua ilha particular, com espaço apenas para ele ou para quem possa lhe agradar ou lhe servir. Para esse indivíduo que se salvou do naufrágio social, a vida tem outra perspectiva. Ele considera que todos os outros estão mortos, pois sabe que não terão sua sorte. Se tiverem, será em outra ilha, que pertencerá só a esse outro sortudo e que ninguém ou muito poucos terão acesso. 
Esse lugar que chamei de ilha, torna-se a gaiola do indivíduo que teve a sorte de se prender a ela. Nesse caso, a metáfora se traduz de um jeito diferente dos náufragos, só que com o mesmo sentido. Imagine um passarinho que viveu preso em uma gaiola e que um dia percebeu que a porta da gaiola estava aberta e que, com isso, viu a oportunidade de sair da prisão e alçar voo livre pela atmosfera. Para onde ele retornaria depois de voar um pouco? É muito provável que voltaria para o conforto da sua gaiola, onde teria comida, água, calor. Seu pesadelo não seria a prisão, seria a liberdade. Para que ele trocaria o que tem por uma suposta liberdade que exigiria dele as mesmas necessidades que tem na gaiola? Sua liberdade seria o seu aprisionamento, pois, aprisionado, ou ilhado em seu mundo, estaria livre de naufragar no mar onde muitos, para manterem a cabeça fora da água, sobem nas costas de quem está perto e o afoga, a fim de fazer daquele corpo, o suporte para a sua sobrevivência. 
A vida é diferente para quem encontra uma ilha. 

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