Mulheres Ilustres do Brasil -Guiomar Novais.

Guiomar Novais - intérprete de música clássica

Guiomar Novais, filha de Manuel da Cruz Novais e Dona Ana de Menezes Novais, descendentes de antigas famílias paulistas, nasceu em São João da Boa Vista, no Estado de São Paulo, a 28 de fevereiro de 1898.
Contava quatro anos de idade, quando seu pai, transferindo-se com a família para a Capital, matriculou-a no Jardim de Infância da Escola Caetano de Campos, então dirigido pela ilustre educadora e poetisa Dona Zalina Rolim.
Recebida com o mesmo carinho e maternal amor prodigalizado, indistintamente, a todas as crianças que frequentavam aquela casa de ensino, Guiomar fez escoarem-se os dias, semanas e alguns meses sem despertar maior atenção sobre a sua minúscula pessoa. Mas um dia, achando-se as classes e as professoras no pátio do recreio, conseguiu iludir a vigilância de todos, correu a uma das salas, abriu o piano e executou as marchas e cantos de quem de há muito conhecia os segredos do teclado. 
O pasmo foi geral !!
A partir de então, aquele toquinho de gente tornou-se o ídolo de todos e a pianista efetiva da classe em tudo quanto houvesse necessidade de música.
Revelada tão precocemente a sua inclinação musical, seu pai tratou de cultivá-la; e o fêz de tal modo que Guiomar, aos oito anos de idade, começou a aparecer em concertos públicos nesta Capital e em várias cidades do interior, despertando em tôda a parte grande entusiasmo e justificada admiração.
Aos dez anos o seu nome tanto se havia popularizado em nosso Estado que a imprensa lhe não regateara os maiores e merecidos elogios, em concertos realizados perante auditórios avultados, constituídos de senhoras e cavalheiros da nossa melhor sociedade. 
referindo-se a um dêles, assim manifestou o severo crítico musical do Correio Paulistano. 
“O auditório, sugestionado pela irrepreensível execução da pequenina artista, aplaudiu-a com entusiasmo. A Guiomarzinha executou de cor tôdas as peças e recebeu estrondosas ovações. Essa menina é a revelação de um gênio”.
Dela, disse jornal O Estado de São Paulo: “A menina pianista Guiomar Novais, nossa patrícia, tem despertado o mais vivo interêsse. Aquêle desenvolvimento artístico, a execução que ela dá às peças de célebres autores como Liszt, Chopin e outros, revelada por uma criança de dez anos, causa verdadeira admiração. Naquela idade, nenhuma criança ainda se exibiu aqui, provocando tanto entusiasmo!”
Em 1909, externando ao Jornal do Comércio do Rio de Janeiro a profunda impressão que lhe causara a interpretação dada por Guiomar a Chopin, um jornalista polaco que a ouvira em São Paulo disse: “Para que um artista estrangeiro possa compreender Chopin é preciso que tenha, além de muito talento, a alma profunda e grave… A interpretação de Chopin por essa criança produz um êxtase… A criança toca Chopin - O Chopin que não pode ser compreendido por tantos talentos formados! E essa criança interpretá-o com tanto brilho e compreensão que todos os melhores intérpretes de Chopin concordariam comigo e aplaudiriam com entusiasmo a artista brasileira. 
Convencido de que sua filha nascera positivamente para a música, a partir daí, seu pai entregou-a aos cuidados profissionais do conceituado professor Chiafarelli, sob cuja direção a prodigiosa criança transformou-se, aos 14 anos, numa artista consumada e admirável. 
Foi quando surgiu a ideia de fazê-la partir para París, a fim de matricular-se no Conservatório daquele país. 
Acedeu Guiomar; e, antes de partir, realizou um concerto de despedida, qualificado pela unanimidade da imprensa paulista como “um sucesso colossal”. Aos últimos acordes a assistência invadiu o palco e aclamou a artista com tão grand entusiasmo que a fez chorar. 
Chegando a Paris com a antecedência de dias apenas do aprazado para a rude prova a que se ia submeter, soube existirem sòmente 12 vagas, para os 380 candidatos inscritos. 
Não se impressionou.
Ao ser chamada, encontrou-se, na porta do Conservatório, com o célebre pianista Harold Bauer seu admirador desde São Paulo, que apertou-lhe fortemente a mão e disse-lhe cheio de entusiasmo: - Guiomar, tire o primeiro lugar!”
Guiomar fêz-lhe a vontade. Dois dias depois, passando em revista o concurso do Conservatório, o famoso crítico Salo, no folhetim do “Temps”, destacava dois nomes apenas, um dos quais, o da nossa patrícia, mereceu o lugar de honra. 
No Conservatório Guiomar recebeu cuidados especiais do ilustre professor Philip, que não receou lançá-la, ainda aluna, no mundo musical, fazendo-a participar dos grandes concertos, ao lado de artistas consagrados. A crítica parisiense, por sua vez, acabou por declarar que ela, entre os artistas notáveis, “constituía uma coisa à parte”.
Saindo do Conservatório em 1912, após um curso brilhantíssimo e detentora do primeiro prêmio, Guiomar realizou concertos em Paris, Londres, Berlim, Munique, Milão, Genebra, Bruxelas, Lausanne e outras grandes cidades européias, concertos que se tornaram célebres pela interpretação pessoal que ela deu às obras dos grandes autores. 
De volta ao Brasil em 1913, realizou, em São Paulo e no Rio de Janeiro, uma série de concertos que marcaram época e que perduram na memória de quantos puderam ouví-los.
Artista algum mereceu, até hoje, tantos elogios como Guiomar, considerada por todos a maior intérprete das músicas clássicas, e nenhum, elevou tão alto o nome de sua terra nas cidades mais cultas do mundo. 

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