Tudo o que nós somos

yuri abyaza costa
A felicidade não morreu

No fim a gente morre, isso é fato - há um detalhe relevante nisso: ninguém sabe quando o nosso fim chegará, pode ser agora, pode ser depois. O que fazemos enquanto estamos vivos é o que tem significado. É muito interessante observar as pessoas, cada uma com a sua verdade (igual a mim, que escrevo esse texto, dentro da minha verdade ou do meu jeito de ver as coisas e de achar que estão certas dentro da minha visão). 
Ser quem realmente somos, pode não ser tão fácil quanto se imagina. O que realmente vivemos em nossas vidas? Quanto tempo temos de fato para viver e ao que corresponde cada etapa? Perguntas simples para respostas complexas. 
Se dividirmos nossas vidas em quatro etapas: infância, juventude, maturidade e velhice poderemos ver que a vida é cruel por um lado e mais cruel por outro lado. Da infância até a juventude passamos a maior parte do tempo aprendendo as lições básicas de sobrevivência, recebemos instruções que julgaram úteis para nós, para usarmos mais tarde. Quando sairmos da juventude e entrarmos para a maturidade, as lições não são ruins, são incompletas, porque não nos explicam que para ser feliz é preciso manter viva a criança que habita em nós, que adormece no fim da juventude, quando ingressa para a maturidade e ressuscita bem depois, na velhice. Essa criança deve permanecer viva sempre, porque não se pode confundir maturidade com truculência. Maturidade tem a ver com ponderação, sensatez, cordura, circunspeção, tino, siso, senso, reflexão, equilíbrio, discernimento, responsabilidade, juízo, razão, prudência, excelência, primazia, plenitude, quilate, correção, primor, perfeição. Truculência tem a ver com ferocidade, violência, atrocidade, barbaridade, crueldade, improbidade, maldade, malignidade, perversidade, tirania, excesso. Para mostrar maturidade basta ser feliz, porque todos os sinônimos de maturidade nos mostra que só uma pessoa feliz possui tais sinônimos ou, no caso de pessoas, adjetivos. E para ser feliz, precisamos de muito pouco, apenas satisfação. Quando estamos satisfeitos com nossas vidas, estamos felizes, o que nos permite maturidade. A criança é feliz porque está sempre satisfeita, o que significa que a criança é madura, tanto é prova disso que raramente vemos uma criança truculenta, as truculentas são aquelas que não estão satisfeitas, que são infelizes em suas condições de vida. 
O velho. A maioria dos velhos são felizes, porque estão satisfeitos, já fizeram tudo o que podiam e estão conscientes que a aposentadoria definitiva (a morte) se aproxima rapidamente. Diante dessa observação, notamos que o problema das nossas vidas não está na infância e nem na velhice, está na juventude e no que se chama idade madura. É difícil ser feliz nessas etapas da vida, porque não somos crianças e nem velhos, somos o que está entre esses dois extremos. Flutuamos entre as portas de entrada e saída da vida e isso pode ser assustador. Sair dessa flutuação e pousar em solo firme, para repousar o espírito e reascender a chama da satisfação ou da felicidade da vida. Esse é o caminho para viver a plenitude, porque um dia olharemos para trás e não pensaremos sobre o que fizemos, pensaremos sobre o que deixamos de fazer, porque mentimos para nós mesmos quando ocultamos a criança que habita em nós, ocultamos porque temos medo - porque nos ensinaram a ter medo. Sair da flutuação da vida é se encontrar com a criança que mora dentro de nós, que implora para romper a porta do quarto escuro onde foi jogada de qualquer jeito e às pressas, é resgatá-la de volta para a vida, para viver as aventuras da imaginação, que é a locomotiva dos nossos sentimentos, que são os únicos valores que validam a nossa existência, porque viver é sentir intensamente a emoção do que fazemos, é a curiosidade aguçada pela fome de aprender tudo o que está ao redor, é brincar de ser o que não se é, ganhando a experiência de ser o que de fato somos. Organismos multicelulares conectados uns aos outros, porque todos somos produto da mesma matéria, entrelaçados em uma teia gigantesca de correntes de vento que ora estão ao norte e ora estão ao sul. Tudo o que nós somos se resume ao esgotamento das energias de um dia de intensa harmonia, bondade, espiritualidade, alegria, imaginação, criatividade, igual vivem as crianças e os velhos, absortos em seus mundos reais, cheios de aventuras imaginarias. Um conto de fadas, uma alegria, um viver. Nesses mundos não existem poderes, deuses, medos, existe a realidade de uma vida madura e plena. 

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