Recordações de Mamuma
Maria José Abyaza Costa |
Foi até o dia 08 de abril
Que a Vênus de Milo dormiu.
Foi em 08 de abril
Que Maria José Abyaza dormiu
A Vênus de Milo suscitava
Maria José Abyaza se afastava
Cada uma com seus própósitos
Deixar a beleza para os outros olhos
A Vênus de Milo teve seu criador
Maria José Abyaza também teve o seu
A Vênus de Milo não foi completada
Maria José Abyaza foi totalmente formada
A Vênus de Milo, nada segurava
Porque não tinha braços, estava amputada
Maria José Abyaza, agradecida ficava
Quando em seus braços seu filho a olhava
O destino, mesmo incerto é justo
Porque reserva para todos algo robusto
A Vênus de Milo só foi achada
Porque um camponês queria fazer um muro
Sua robustez não lhe dava seguro
De que possuía mais do que pedras
Tinha em suas mãos o próprio futuro
Trocou por meia dúzia de cabras, depois só murmuro
Maria José Abyaza, abriu os braços e bateu asas
Não queria construir um muro, queria abrir uma estrada
Para que sua vida não ficasse parada
Igual a estátua da Vênus de Milo
Que além de parada, tinha vida empedrada
Maria José Abyaza esculpiu a própria caminhada
Levou consigo a ideia de uma cruzada
Com o malho e o cinzel, fez sua cara ninhada
A Vênus de Milo
Ninguém sabe porque foi criada
Menos ainda, por que foi enterrada
O mesmo não se passa com Maria José Abyaza
Porque se sabe como foi criada
E se sabe porque foi enterrada
Nenhuma delas de fato está morta
Uma vive no Louvre outra vive na memória
Poema criado por Yuri Abyaza Costa para homenagear sua mãe que faleceu no dia 08 de abril de 1999, em São Paulo, acometida por câncer de pulmão. A Vênus de Milo foi desenterrada no dia 08 de abril de 1820.
No início o autor pensava que o câncer que acometeu sua mãe, havia se desenvolvido por mágoa de a mãe não ter podido viver a vida que sonhou, depois pensou melhor e concluiu que o câncer foi resultado do pó de giz que aspirou por mais de trinta anos, tempo de vida que dedicou a lecionar Língua Portuguesa e Literatura nas escolas estaduais de São Paulo. Despertou sua atenção porque ambas, tanto a mãe quanto a estátua tinham minério em seus corpos. O poema se chama Recordações de Mamuma, porque era assim que o filho chamava a mãe quando ainda era criança e não sabia pronunciar mamãe.
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