Analise e interpretação do poema O Livro e a América de Castro Alves

yuri abyaza costa
O livro e a América do poeta e escritor Castro Alves

O que será que Castro Alves quis dizer quando confeccionou o poema O Livro e a América? Só ele poderia nos responder, mas Deus o levou antes que pudesse nos dizer qualquer palavra para elucidar minha mente tão simplória. 

Antes de tudo vamos entender de quando se trata de América, absorvamos a ideia de todo um Continente e não apenas um país de todo o Continente. 

Castro Alves começa dizendo que a América foi moldada por Deus (Jeová) para que, depois de descoberta por Cristóvão Colombo se tornaria grande por si só. Castro Alves nos diz com muita clareza que o Continente emergiria (surgiria do fundo do mar) como Netuno quando coloca sua cabeça para fora dos Oceanos para vislumbrar o horizonte. 

Castro Alves diz que o Continente que despertou das profundezas dos Oceanos, recebeu dos emigrantes europeus que chegaram para viver nesse novo Continente, artes da Europa e frutas (uva) do Sri Lanka. Assim foi povoado o novo Continente, porém Castro Alves não fala sobre os americanos que aqui viviam antes, os Incas, Maias, Índios etc e não fala também das atrocidades cometidas pelos emigrantes. 

O Continente já desperto, conversa com seu criador. Diz a Deus que tudo marcha, que tudo se movimenta, tudo caminha. As cataratas para a terra, as estrelas para o céu e reclama que quer ser grande, marchar com os ventos, com os mundos e com o firmamento e Deus, como um bom pai diz: "marchar".

O Continente, por sua vez, inexperiente, confuso, indaga ao seu criador como deveria marchar. Se como a Grécia que só fez estátuas, como Roma que para construir seu país sacrificou vários outros, como a Alemanha que só destruiu? Não! Decidia-se resoluto o Continente. Decidia-se a não usar os braços ou a força, decidia-se por usar a inteligência, porque os poemas nunca morrem. Esses o tempo não pode apagar. 

Castro Alves exalta o livro como símbolo da inteligência e diz que quando você estiver diante de Deus, Ele (o criador) terá um livro na mão. 
Mostra-nos a coincidência de Colombo, Gutemberg (o pai da prensa que deu origem a imprensa) terem encontrado o Continente.

Ele nos diz que o livro, onde se encontra milhares de pensamentos, fatos históricos, ficção ou para resumir, o interior da mente que escreveu, quem detiver esse poder, deterá para si a alma do escritor. 

Para Castro Alves o Continente, enquanto estiver envolto pelo manto do conhecimento, permanecerá eterno em todo e qualquer pensamento, com mil braços trabalhando (Briaréu) enterrando a ignorância exaltando a revolução, pois para Castro Alves o livro é o templo das ideias e delas é que nascem as vontades e estas em prática movem multidões. 

Talhado para as grandezas,
Para crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
– Estatuário de colossos –
Cansado de outros esboços,
Disse um dia Jeová:
“Vai, Colombo, abre a cortina
Da minha eterna oficina…
Tira a América de lá”.

Molhado ainda do dilúvio,
Qual Tritão [1] descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa,
Um – traz-lhe as artes da Europa.
Outro – as bagas [2] do Ceilão…
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno, então brada:
“Tudo marcha!… Ó grande Deus!
As cataratas – para a terra.
As estrelas – para os céus;
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar…
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos… com os firmamentos!!!”
E Deus responde – “Marchar!”

“Marchar!”… Mas como?…  Da Grécia
Nos dóricos Partenões. [3]
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteões?…
Marchar com a espada de Roma
– Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo….
– Com as garras nas mãos do mundo,
– Com os dentes no coração?…

“Marchar!… Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?…
Não!… Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir…
Lá brada César morrendo:
No pugilato tremendo,
Quem sempre vence é o porvir!”

Filhos do século das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro – esse audaz guerreiro,
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo…
Éolo [4] de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
De onde a Igualdade voou…

Por uma fatalidade
Dessas que descem do além,
O século que viu Colombo
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A Ave da imprensa gerou…
O Genovês salta os mares…
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou…

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto –  
As almas buscam beber…
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo na alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.

Vós, que o templo das ideias
Largo – abris às multidões,
Para o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse “rei dos ventos”
– Ginete dos pensamentos,
– Arauto da grande luz!…

Bravo! a quem salva o futuro,
Fecundando a multidão!…
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo,
Brada “Luz!” o Novo Mundo,
Num brado de Briareu… [5]
Luz, pois, no vale e na serra…
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!…

(Bahia.)


NOTAS:

[1] Tritão – deus marítimo, filho de Netuno e sua esposa Anfitrite.

[2] Bagas – frutas.

[3] Partenon – um templo dedicado à deusa Atena, construído no século cinco antes da era cristã, em Atenas, na Grécia antiga.

[4] Éolo, na mitologia grega, é o espírito ou guardião dos ventos.

[5] Briareu – na mitologia da Grécia antiga, Briareu era um dos gigantes “centímanos”, que possuíam cem braços e cinquenta cabeças. Era filho de Gaia e Urano.

Comentários

  1. Yuri Castro Alves era bem loco mesmo o que será que ingeria para fazer uso tão eloquente do vernáculo a ponto de viajar pra cacete nas iddia mano? rssrs Boa gostei da reflexão

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    1. Opa, tudo bom? Eu não tenho ideia qual produto ele usava, mas queria um pouco para viajar feito ele e criar essas obras maravilhosas.

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