Lá se vai o Eduardo Andrade

yuri abyaza costa
Eduardo Andrade (esq.) e Amauri Sakatauskas (dir.) (foto: Amauri Sakatauskas)

Quem não conhecia o Eduardo Andrade da TV Oeste Canal 44 da cidade de Carapicuíba? Era conhecido de muitas pessoas, pois era o nosso repórter favorito, já que se empenhava duramente para (do seu jeito bastante autêntico) revelar à toda população da Região Oeste de São Paulo tudo o que podia. Fazia denúncias, entrevistava empresários, políticos, pessoas do povo e enviava tudo para seu estúdio, onde seu auxiliar de edição esperava a chegada das novas matérias. Eduardo Andrade foi vítima do COVID-19, tinha 47 anos, casado e com um filho.

Exatamente ontem, dia 27/02/2021 visitei o estúdio do nosso amigo em comum, Amauri Sakatauskas, da Prisma Produtora, onde recebi a notícia de que o Eduardo estava internado e entubado. Perguntei ao Amauri se o Eduardo estava de bruços, fato que o Amauri não soube me informar, então, na mesma hora, lá do outro plano, recebi a mensagem de que a passagem do Eduardo seria na mesma noite do dia 27/02/2021. Ao acordar, verifiquei nas redes sociais a fatídica notícia. 
Sempre bem humorado, cheio de novas ideias e muito inteligente, dotado de uma mente veloz que o capacitava para ler com tamanha rapidez que, certa vez, numa entrevista que fez comigo sobre meu livro que lancei em 2010, ele leu na minha frente mais de oitenta páginas em menos de meia hora. O espírito de jornalista encarnou naquele corpo agigantado e perguntas sem fim saltavam de sua boca em palavras tão rápidas que era quase impossível compreender. 
Numa de suas andanças por essa vida, teve a concessão da sua TV cassada. Ao ter que providenciar nova documentação, o dinheiro não foi suficiente, então o Eduardo hipotecou a própria casa, pagou o que deu e continuou a fazer o que amava. Comprou câmeras, iluminação, microfone e "foi pra cima" como se diz no populacho. 
Uma coisa é certa. Carapicuíba não é para amadores. Nessa cidade ou você é profissional, corajoso, "matador de leões" ou você é engolido pela boca do maligno. Não foi o caso do Eduardo, o caso dele foi outro. 

Hoje cedo, dia 27/02/2021, liguei para outro amigo nosso em comum, o jornalista profissional Hipólito Cândido, dono do Jornal Primeira Edição, para perguntar se ele sabia algo a respeito do Eduardo, para que esse texto se tornasse maior e mais completo sobre a vida do lutador Eduardo Andrade. O que vou dize a seguir é muito importante.
A cultura de um povo se traduz pela sua memória e uma pessoa se traduz pelo seu passado. Onde está o passado do Eduardo? Um homem que entrevistava a todos e nunca foi entrevistado por ninguém, então seus arquivos morreram com ele e nada podemos fazer se não homenageá-lo do modo que podemos.
O jornalismo é uma profissão interessante, mostra o que acontece fora, raramente o que acontece dentro e principalmente de quem revela para o mundo o que cinco minutos depois todos já esqueceram. Grave suas memórias e de quem você ama ou acha interessante, pois cedo ou tarde tudo desaparece. 
Manifesto meus mais elevados votos de estima e consideração para o Eduardo Andrade da TV Oeste Canal 44. Esteja com Deus, amigo. 

Comentários

Postagens mais visitadas