Como é ser um dependente químico?

Como é ser um dependente químico

Vamos começar logo com como é ser um dependente químico? É uma merda, simples assim! Eu odeio ser um dependente químico e vou te contar como tudo começou comigo, lembrando que aqui é a minha experiência, cada dependente tem a sua, eu vou contar a minha. 

Para ser bem sincero, o meu caso começou na infância, com os meus pais. O modo que eles te tratam ou não te tratam é o primeiro gatilho. É a repressão, o autoritarismo dos pais, o querer que você seja o que eles querem que você seja e não o que você quer ser. Esse é o começo, a contrariedade, você quer um caminho, mas seus pais e as leis te obrigam a você ser o que não quer ser, viver em outra realidade, não a sua, a deles e a que o governo impõe por meio da propaganda, das cartilhas escolares, da força policial, dos conceitos e pré-conceitos, da religião e das falsas aparências.

Você que não é dependente químico igual a mim, pode até pensar que tenho que culpar alguém pelas minhas fraquezas, mas eu te garanto que se você não é dependente químico, a sua infância foi uma merda. Você pode pensar que se a minha infância foi boa, por que me tornei um dependente químico?

Bom... Acontece que a minha infância foi boa por um lado, eu tive tudo o que quis até certo ponto, só que eu não tinha o que eu realmente queria, que era o amor do meu pai. O pai é uma figura muito importante na vida da criança, ele é o herói, é o cara que resolve todos os seus pepinos, mas esse não era o caso do meu pai. Ele não resolvia os meus pepinos, ele arrumava pepinos para mim e ainda queria que eu resolvesse os dele. Entendo a intenção dele, era a de me fazer uma pessoa versátil, com várias habilidades, e isso ele conseguiu e conseguiu também fazer com que eu crescesse ao mesmo tempo com e sem pai - um semi-herói, presente fisicamente e ausente espiritualmente. 

Minha mãe era totalmente diferente, era presente o tempo todo, protegia-me de tudo e de todos, menos do meu pai, porque há anos atrás a mulher não tinha voz dentro e fora do lar, era um objeto decorativo, uma máquina de filhos, ou uma fritadeira que só fazia comida, limpava a casa e cuidava dos filhos e tinha que ficar quietinha. Era a demonstração de um amor às escondidas, sim, porque naquela época, a ideia que se tinha era a de que o filho homem não chora, que ele veste azul e que tem que ser "o cara" para substituir mais tarde o pai imperador - isso tudo era conectado diretamente à cultura da época, uma imbecilidade completa e acredite, em alguns lares essa estupidez se arrasta até os dias de hoje.  

Essa cultura espartana, misturada à cultura indígena, italiana, árabe, americana, japonesa etc, fez do Brasil uma bosta. Um país multicultural em que é muito complicado se identificar, ter uma origem, um porto seguro, ser você mesmo. Ainda mais quando se é neto de um general mega ultra famoso como foi o meu avô paterno, e filho de um intelectual dos núcleos acadêmicos de esquerda, cheios de ideais marxistas e atitudes capitalistas. Imagina o nó (ou no nosso folclore - bola de curupira) que são os meus pensamentos?

Minha mãe era uma artista, professora de letras, psicopedagoga, pianista, pintora, bailarina, chef, poetisa; uma mulher letrada de um coração enorme e meu pai, filho abandonado pelo pai dele, espancado pelo tio, preso 22 vezes, exilado político, vingativo, professor universitário, político, enólogo (enólogo é a palavra chique para a pessoa que é viciada em álcool da fermentação da uva ou viciado em vinho), seu prazer era me bater, obrigar-me a ler sem parar, a escrever, a participar de suas reuniões maçantes de Sindicatos inúteis onde só participavam pessoas das mais variadas classes e categorias diferentes. O único assunto ou assunto principal desde as primeiras horas da manhã até a última hora da noite, era sobre guerra, revolução, política, corrupção, a luta continua e blá blá blá. 

Esses assuntos causaram em mim um sério problema com autoritarismo. Eu sei muito bem e com detalhes a diferença entre autoridade e autoritarismo. Autoridade é a atribuição a alguém de uma função limitada àquele campo de trabalho, mesmo que a pessoa tenha conhecimento profundo do seu campo de trabalho, isso não dá a ela o direito ao autoritarismo, que é exceder ou ultrapassar os limites do campo do seu trabalho, coisa que todos sabemos, acontece com frequência dentro de uma cadeia de comando, seja com o Reitor de uma Universidade, um político, ou no mundo militar ou até mesmo em empresas, em que o chefe usa de suas atribuições conferidas para chantagear ou subjugar seus subordinados, nessa situação ele atravessa a linha, sai do campo da autoridade e entra no campo do autoritarismo. Isso também acontece no universo clérigo.    

Hoje eu sou pai de uma menina e aprendi que os pais devem se ater a algumas coisas relacionadas aos filhos. A primeira delas é identificar na criança o dom que já nasceu com ela, por exemplo, se seu filho gosta de música, muito provavelmente ele não gostará de ser um professor de física, gostará de ser músico, dançarino, viajante, mochileiro, qualquer coisa que não seja outra coisa diferente de quem ele é. Então é preciso investir nesse dom que toda criança tem inerente a ela. Era o meu caso, eu amo esportes de alto risco, eu queria ser piloto e meu pai dizia que eu iria bater o carro e morrer na primeira curva. E daí? Pelo menos morreria feliz.

Ele tinha condições financeiras para me fazer piloto, mas me impediu. Queria ser piloto de motocross. O tio dele, meu tio avô, morreu em um acidente de moto e dizia que eu terminaria igual, então, nada de moto. Skate e Surf eram coisas de maconheiro, ator era coisa do que antigamente se chamava de "viado" (essa palavra merece um destaque especial, porque significa uma pessoa desviada do que se considerava normal pela cultura do nosso país - um marginal, uma pessoa que andava à margem dos santinhos da sociedade, diga-se e todos sabemos implicitamente que esses santinhos só são santinhos na rua, porque na casa deles, sabe-se lá o que fazem) - ainda bem que essa alcunha caiu no esquecimento. 

Viver uma realidade que não é a sua, que não tem a ver com quem você realmente é por dentro, ter que viver com uma máscara desde a hora em que acorda até quando apaga a luz do quarto e todos acreditam que fecha os olhos e dorme igual a um anjo, enquanto que, na verdade, está digerindo tudo o que viveu naquele mais um dia miserável, mesmo que aos olhos dos outros tenha sido um dia de "grandes conquistas". Seu pai está orgulhoso porque tirou boas notas, sua mãe pensa que está tudo bem, mas percebe estampado a tristeza na sua cara, mas o que ela pode fazer?

Não é só isso, tem muito mais coisas. Por exemplo, eu sou canhoto, daltônico, um pouco surdo e meu relógio biológico é vespertino (funciona melhor da tarde para a noite), características essas que faz de mim uma pessoa diferente da maioria dos normais, e meu pai queria que eu fosse normal, sem entender essas características que já nasceram em mim, coisas que eu não posso mudar pela força do hábito, por exemplo, eu não posso enxergar cores só de ver cores que não vejo. Não posso escutar além do limite da minha surdez, não posso ser destro se meu cérebro é canhoto.

Isso pode não parecer importante, só que é de extrema importância - seja quem você não é. Uma afirmação impossível até mesmo para você que pode ser ou se julga normal. Não podemos fugir de quem somos, nós estamos aonde vamos e onde estiver você tem que ser você, se não for, estará no mínimo sendo falso, hipócrita, mentiroso. E sabe o pior? As pessoas não aceitam o que é diferente delas, então ou você se adapta, ou foge ou morre. 

É por esses e outros motivos mais que não cabem nesse texto que você busca uma saída da realidade em que vive para a realidade em que quer viver, mesmo que seja só na imaginação, é quando entram as drogas lícitas ou ilícitas, o uso dessas substâncias fazem com que você se sinta um pouco mais normal, um pouco mais aceitável e um pouco mais feliz.

Não é a droga que vicia, é a busca pela aceitação, pela participação de um grupo de normais, pelo conforto de estar vivo sem problemas, só que se fosse fácil assim, tudo bem. Não é fácil assim, porque depois do uso de qualquer tipo de droga, você adquire mais um problema, o de ter que esconder o vício ou o produto que usa para se sentir normal, porque se não esconder, os normais vão te julgar, mas será que já não basta todo o sofrimento com o qual é obrigado a conviver, ter ainda que conviver com o julgamento de pessoas que não vivem a sua vida, que não são você? É difícil. 

É caso de saúde pública. Antes era um caso apenas familiar, restrito ao lar, que saiu do controle e foi para as ruas.

Então onde está o foco do problema? Está na cultura em primeiro lugar e na educação em segundo lugar, sim, porque ambos são muito diferentes. Cultura nesse texto aqui está relacionado a costumes e educação em extrair o que a criança tem de melhor e cultivar (culturalmente) esse melhor que a criança carrega em si, intrínseco a ela e não impor a sua vontade e muito menos a vontade das cartilhas do governo sobre as crianças, tentando fazer delas iguais - isso sim é o que podemos chamar de comportamento comunista de verdade. Todo mundo pensa igual e age igual, caso contrário é um marginal ou para os ricos, o adjetivo de excêntricos. 

Não ser você mesmo e viver uma vida que não quer, em uma sociedade de falsos é no mínimo revoltante, então o indivíduo se rebela contra ele mesmo, nunca contra o sistema dos normais, porque o sistema dos normais é cruel, ele o aprisiona em uma sela por vários anos e médicos aplicam tratamentos para as cobaias aprisionadas a fim de testar o que chamam de "novas drogas" dos laboratórios que lucram milhões vendendo para o governo o que sugerem ser a solução para acalmar os ânimos dos mais exaltados, dos diferentes, os não aceitáveis, os desprezíveis, e nesse espaço refiro-me às drogas lícitas, as que foram aprovadas por instituições governamentais que supostamente analisaram tais drogas - aqui devemos incluir o álcool e o cigarro como drogas lícitas. Vamos falar um pouco e brevemente sobre as drogas ilícitas? 

Sabia que tudo isso é cultural? Garanto para você que o preconceito quanto ao uso da maconha não passa de preconceito cultural, porque se amanhã o governo ceder e tornar a maconha lícita, o preconceito acaba no mesmo dia. "Ah! Agora pode, agora é normal" - dirão os normais. É claro que nem todo mundo começará a fumar maconha, mas muita gente ficará feliz, pode apostar, até os laboratórios, ainda mais se eles forem os fabricantes de cápsulas ou cigarros ou fornecedores de sementes. Até o governo ficará feliz com o lucro dos impostos. 

Veja uma lista de medicamentos chamados de tarja preta que o governo disponibiliza para amenizar as coisas e se quiser pesquise os efeitos de cada um e diga nos comentários que diferença vai fazer se liberar a maconha?

Confira abaixo os medicamentos incorporados no SUS: 

Ácido Valpróico (valproato de sódio)

Carbamazepina

Carbonato de lítio

Clonazepam

Cloridrato de amitriptilina

Cloridrato de biperideno

Lactato de biperideno

Cloridrato de clomipramina

Cloridrato de clorpromazina

Cloridrato de fluoxetina

Cloridrato de nortriptilina

Cloridrato de prometazina

Cloridrato de tiamina

Decanoato de haloperidol

Haloperidol

Diazepam

Fenitoína

Fenobarbital

Flumazenil

Levodopa + carbidopa

Levodopa + benserazida

Midazolam 

Com o que isso tudo lhe parece? Um baita de um circo, não acha?

Bom, eu sou um dependente químico, sou viciado em tabaco, álcool, remédios, refrigerantes, cafeína, adrenalina, sexo e outras coisas, tipo açúcares e chás. 

E como diz a música ``Balada do Louco'' do cantor e compositor Ney Matogrosso "...eu juro que é melhor não ser o normal, se eu posso pensar que Deus sou eu...Se eu sou muito louco, não vou me curar, já não sou o único que encontrou a paz, mas louco é quem me diz e não é feliz".

Até breve. Mas antes, uma sugestão: Senhores pais, atenção aos dons dos seus filhos, senhores professores, atenção aos seus alunos, senhores políticos, atenção ao sistema de saúde, educação e principalmente cultura. 

Conviver com toda essa tristeza dia a dia após dias e mais anos e anos não é para amadores e nem aventureiros, requer muita disciplina, esforço físico e mental, tolerância, paciência, superações, enfrentamentos (principalmente do medo que se sente dos ignorantes autoritários) então, é isso. Obrigado por ler até o final. 

Se quiser falar comigo a respeito e compartilhar a sua dor é só me telefonar, o número está no meu canal do YouTube na aba Sobre, lembrando que é só um bate papo, já que não sou médico e nem psicólogo e não quero ser processado e nem preso por exercício ilegal da profissão.  

Comentários

  1. Bom dia.
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    Terapia breve baseada na neurobiologia.
    Técinica chama-se Brainspotting.

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