La se vai o Wanderley Bernardo
Eu sei que essa não é das melhores fotos, mas é o que temos para hoje. La se vai mais um grande amigo, não apenas meu, do meu pai também - Wanderley Bernardo.
Wanderley, como era conhecido por seus amigos, era um homem simples, fotógrafo de início de carreira na década de 1970, tornou-se empresário de sucesso nos vários segmentos que exerceu.
Depois da fotografia, seguiu para a metalurgia, depois para o ramo da confecção e posteriormente para o ramo imobiliário - quando obteve grande êxito.
Inteligentíssimo, observador, criativo, estudioso, profeta e amante da vida, dos amigos, da boa música - tanto é que era conhecido como "pé de valsa" nos bares que frequentava, já que dançava muito bem.
Conheci o Wanderley na década de 1980, depois de eu ter sofrido um acidente grave de queimadura por pólvora que quase me deformou.
Quando minha família se mudou para a vizinhança onde o Wanderley já morava, ele observou a mudança descarregada do caminhão que meu pai trouxe para a nossa casa. Quatro cadeiras, uma mesa, um sofá, uma cama e toneladas de livros - quatorze mil exemplares para ser mais exato. Foi daí que surgiu a amizade entre meu pai, Miguel Costa Júnior e Wanderlei Bernardo.
Ambos fundaram um jornal que acabou ficando com meu pai, pois o Wandreley abriu mão da sociedade e seguiu para o ramo da confecção de roupas. Na verdade não era bem uma confecção e sim o princípio dos negócios que os chineses já implantavam no Brasil.
Wanderley comprava roupas a preço de banana e revendia a preço de ouro, foi então que ele teve a brilhante ideia de colocar sacoleiras para revender as roupas que não tinham marca. Ele comprava as roupas sem marca, mandava costurar a etiqueta nas roupas e o resultado já podemos imaginar.
Hoje essas coisas podem ser ditas, porque infelizmente esse cérebro brilhante já não habita mais entre nós.
Um dia ele comprou um terreno grande perto da delegacia de polícia, e um conhecido sugeriu que ele dividisse o terreno e vendesse as partes - o nome que se dá a isso é desdobro.
Foi a partir dessa iniciativa, que o Wanderley entrou para o segmento imobiliário e de construção civil. Ele gostou, porque viu a chance de ganhar dinheiro com essa modalidade.
Estudioso e dedicado, investiu mais e mais na compra e venda de terrenos e construção de casas e sua vida financeira que já estava boa, ficou melhor- muito melhor.
Eu cheguei a trabalhar com ele tanto na confecção, quanto na venda de lotes e com ele aprendi muitas coisas. Era difícil conversar com o Wandreley, porque ele falava muito baixo e era um pouco surdo, e sua visão estava sempre à frente de seus concorrentes.
Como ele gostava da noite, vivia nos bares curtindo a vida que Deus lhe deu, com carros do ano, roupas caras e sempre bem vestido e perfumado.
Foi com ele que aprendi a desenhar um passarinho e a desenvolver a arte de aprender a negociar.
Mas infelizmente o jardim da vida nem sempre mantém as suas flores e por um acaso do destino, o declínio lhe atingiu. Foram vários os motivos que não devem ser citados aqui, pois esse texto é para mostrar o lado bom desse homem.
Ele se mudou da nossa cidade e foi recomeçar a vida em outras paragens, sofreu infartos, derrames, injustiças e teve seu fim marcado pela visão da praia onde viveu seus últimos dias.
Esse resumo, um tanto quanto mórbido, não revela todas as aventuras de Wanderley Bernardo no mundo em que viveu, mas da um panorama realista de como era a sua personalidade.
Lamento muito a passagem desse meu amigo, que me ensinou muito do que sabia. Ele era um livro cheio de histórias, que hoje não podem mais ser lidas.
Que Deus o acolha em seus braços e lhe dê o carinho merecido que só o pai eterno pode dar.
E para aqueles que ficaram, que o dinheiro agora seja o vosso consolo.
A foto que ilustra essa postagem é de 2010, quando ele não tinha onde ficar e acabou por passar uma semana comigo em um apartamento alugado onde eu morava.
Ecort XR3 (só quem o conheceu entenderá o que isso quer dizer)
Wanderley Bernardo, apesar de suas aventuras, era um homem honesto e honrado. Deixou aqui na Terra dois filhos, três netos e muita saudade.
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